Downstream: desinvestimento é oportunidade, mas setor precisa de segurança jurídica
Os desinvestimentos da Petrobras em refino abrem espaço para uma mudança transformacional no downstream brasileiro nos próximos anos, alinhada com a transição energética para uma economia de baixo carbono e a adoção de novas tecnologias nos combustíveis. Mas, para a criação de um ambiente mais competitivo em toda a cadeia, é imperativo superar gargalos regulatórios, tributários e logísticos, além dos impactos da pandemia da Covid-19, que aumentaram a pressão por novos modelos de negócio. Essas são algumas das conclusões do painel “O novo mercado de downstream”, no segundo dia da Rio Oil & Gas.
José de Sá, Senior Partner da Bain&Company e mediador do painel, destacou que o fato de o Brasil ser um dos 10 maiores mercados para derivados de petróleo no mundo cria oportunidades para refinadores, distribuidores, varejistas, traders, players de infraestrutura e outros. “O timing dos desinvestimentos da Petrobras é excelente. O Brasil precisa se plugar com o que acontece no refino mundial e remover as barreiras para evoluir.”
Anelise Lara, diretora-executiva de Refino e Gás Natural da Petrobras, destacou que o processo de desinvestimento “vai bem” e que em dois anos a empresa passará de 98% do controle do refino para cerca de 50%, considerando terminais e dutos, além da venda da participação na Braskem, BR Distribuidoras e outras subsidiárias. Mas a Petrobras se manterá relevante: “Nossa estratégia é reduzir custos, aumentar a eficiência energética, avançar na descarbonização das operações, compliance, governança, capacitar nosso time interno para a abertura. Seremos competidores fortes e ágeis nesse novo cenário.”
Marcelo Araújo, CEO da Ipiranga, disse que “o desinvestimento e outros movimentos vão mudar profundamente o cenário e o mercado de downstream”. Para ele, são fundamentais um marco regulatório que traga segurança jurídica e liberdade aos players e a simplificação tributária, que pode passar pela reforma em curso no Congresso. Ele também destacou que a criação recente da ABD pode antecipar problemas e propor soluções.
Sobre biocombustíveis, Marcelo Araújo destacou a liderança global do Brasil e sua matriz de transporte mais limpa. Ressaltou, porém, que é preciso resolver os termos do mandato (mistura obrigatória ao combustível fóssil e sistema de leilões) e o funcionamento do Renovabio. Antonio Joyanes, Vice-Presidente Sênior de Refino da Cepsa Refining, descreveu a evolução do downstream na Espanha em direção ao atual mercado aberto, com competição entre refinadores e importadores.
Já Bernard Pinatel, presidente de Químicos e Refino da Total, tratou dos desafios das diante da Covid-19. “Tivemos um choque importante de demanda e oferta global. Vai levar algum tempo até isso se recuperar. E ainda temos a questão da mudança climática”.