“Após vencermos este grande desafio sanitário, serão muitas as oportunidades de investimentos em infraestrutura”, defende Diretor Comercial da Techint E&C
Em um contexto nacional marcado pela pandemia, abertura do mercado de downstream, votação da Lei do Gás e transição energética, entre outros fatores, o Brasil se encontra diante de muitas oportunidades e alguns desafios.
Confira a entrevista com Luís Guilherme de Sá, Diretor Comercial da Techint E&C – empresa do grupo industrial de origem italiana Techint, responsável pelo desenvolvimento de grandes obras industriais e de infraestrutura no país, na qual ele compartilha suas perspectivas sobre o mercado brasileiro e suas expectativas para a Rio Oil & Gas.
1- Este é o primeiro ano da Techint como patrocinadora da Rio Oil&Gas, justamente no momento em que o evento passa por uma transformação de conceito. O que vocês esperam desse formato 100% digital?
As nossas expectativas são as melhores. A Rio Oil&Gas presencial sempre foi muito rica em promover painéis técnicos e networking durante a feira. São dois desafios neste formato adaptado ao período de pandemia: conseguir transferir essas trocas que aconteciam para o universo virtual e dar foco às discussões específicas, para permitir que as empresas consigam promover suas ideias e apresentar seus produtos de forma eficiente.
O formato digital tem uma grande vantagem ante o presencial, que é não exigir tempo de deslocamento entre uma reunião e outra ou até mesmo pelos estandes. Há ainda a possibilidade de participarmos em mais fóruns, ter acesso às informações das outras empresas pelos sites e papers online e a oportunidade de participar de salas virtuais. Vamos otimizar o tempo, e almejo que seja bastante produtivo.
2- A Techint é uma empresa que tem, entre suas áreas de atuação, downstream e plantas petroquímicas. Quais são as expectativas da empresa para o novo mercado de downstream brasileiro, com os desinvestimentos da Petrobras no refino?
Enxergamos que os players privados trarão nova dinâmica para o mercado de refino. Algumas unidades da Petrobras que estão em desinvestimento vão precisar de atualização tecnológica. Com isso, surgirão oportunidades de modernização destas unidades. A Techint E&C é uma das poucas empresas preparadas para suprir essas demandas, com experiência e reconhecida qualidade técnica, que pode ser colocada à disposição das empresas para oferecer segurança e conhecimento tecnológico para execução de intervenções em unidades existentes, relacionadas a projetos brownfield e de revamps. Nossa expertise na área de refino certamente é um diferencial. A empresa trabalhou em todas as refinarias da Petrobras e certamente possui um conhecimento valioso.
Um aspecto muito relevante, e que nos diferencia de outros players do setor, é o compromisso inegociável de entregar o projeto que foi contratado. Em 73 anos de Brasil, a Techint nunca deixou uma obra inacabada.
3- O Brasil tem 45% de sua matriz energética oriunda de fontes renováveis, mas ainda enfrenta o desafio de planejar melhor o uso dessas fontes. Atuando também na área de geração de energia e de construção de usinas, como vocês enxergam o Brasil inserido no processo de transição energética?
O Brasil tem uma grande oportunidade nesse processo de transição energética, porque já tem uma matriz renovável muito forte. Enquanto alguns países ainda são dependentes do carvão, nacionalmente já temos uma matriz diferenciada e muito limpa. Mais de 60% da geração de energia do país vem hidrelétricas, com crescimentos das eólicas e solares e a geração de energia via biomassa.
Além disso, hoje contamos, por exemplo, com o gás do pré-sal. Estou muito otimista com a perspectiva de o país estar inserido neste contexto com cada vez mais liderança e pioneirismo. Vamos precisar ter crescimento de fontes de energia seguras e as térmicas a gás natural oferecem essa alternativa, complementando as eólicas e solares, trazendo segurança para o sistema.
Desde sua criação, a grande especialidade da Techint é a execução de oleodutos e gasodutos, e vemos muitas oportunidades neste setor. Além disso, com a expansão da produção de gás devido à exploração do pré-sal, existe a perspectiva de novos investimentos na construção de gasodutos terrestres e offshore que transportem o gás para a terra. Com o gás competitivo, surgem oportunidades de investimento em novas térmicas, plantas de tratamento de gás, de HBI e de amônia e ureia no país, ou seja, o novo mercado de gás pode criar um círculo virtuoso que pode ser muito positivo para a economia do país.
Com esses avanços, temos expectativas positivas em relação a essa transição que estamos vivendo. A redução do preço e o aumento da competitividade do gás são fundamentais para o estímulo de investimentos na atividade siderúrgica.
4- Quais pautas vocês destacariam como mais urgentes para um fórum de discussões como o da Rio Oil&Gas?
Principalmente pautas sobre os impactos que a nova Lei do Gás pode trazer, os desafios regulatórios dessa legislação e como os diversos players enxergam essa nova perspectiva, sob o prisma do operador e do investidor.
Outra discussão relevante é sobre a importância estratégica do desenvolvimento de tecnologia no país e de estímulo à produção local, dentro do contexto que a pandemia nos mostrou de dependência internacional em alguns mercados. Na verdade, a crise da Covid-19 tem nos mostrado a fragilidade de depender exclusivamente de um determinado país para fornecer bens estratégicos. Hoje, vemos diversos segmentos comentarem sobre a importância de consumir produtos locais, porque faz bem para a economia do país. Agora e após a atual crise, a preocupação com a geração de empregos e renda locais deveria ser uma prioridade para empresas e governos.
Por exemplo, a P-76, construída em nossa Unidade Offshore em Pontal do Paraná, empregou no pico da obra mais de 5 mil profissionais, com mais de 70% de mão de obra local. De 2014 até 2018, foram gerados mais de 9.400 empregos diretos e, durante cinco anos de obra, a P-76 contratou mais de 2 mil fornecedores brasileiros, sendo 681 apenas do estado do Paraná.
Dessa forma, após vencermos este grande desafio sanitário, serão muitas as oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil, especialmente para empresas que possam contribuir com a geração de empregos e com desenvolvimento local.
Devemos ressaltar a importância da produção local e o valor estratégico da geração de tecnologia associada estes projetos localmente. É uma decisão entre ser importador de produto acabado ou gerador de tecnologia e empregos qualificados.